Segura Peão!

 

É muito saudável sentir alegria, estar entre amigos, divertir-se, paquerar, ouvir músicas e assistir shows.

Isso é o que faz a juventude frequentar as Festas de Peão. Numa enquete realizada nas últimas semanas, foi perguntado às pessoas se elas iam a esse tipo de festa por causa dos shows ou para assistir às provas de montaria. Quase a totalidade disse que ia pelos shows e por causa da alegria da festa. Muitos confessaram que ficam com dó dos animais e que não faria falta alguma a extinção das montarias.

Os organizadores afirmam que os animais são bem tratados. É claro que são! Como um boi mal alimentado e fraco pularia com tanta energia? Alimentar bem um animal não quer dizer que ele não está sendo judiado. Por que um boi, normalmente manso e pacífico, fica enlouquecido numa arena?

Imagine-se no lugar dele. Você, um animal preso num lugar minúsculo, sem poder se mexer. Uma turba gritando ensandecida, fogos espocando, rojões, luzes, sinos, e você sem poder fugir e alguém cutucando-o com uma vara com prego na ponta, outro puxando seu rabo com muita força, outros apertando a peiteira em seus pulmões até deixá-lo sem poder respirar além de esporas fincando seu ventre, cortand, ferindo. E sinta também a tortura de uma tira de couro – sedém – fortemente amarrada em sua virilha comprimindo os órgãos genitais. É claro que você iria saltar doidamente para se ver livre do martírio! Mas os peões ironizam: são só 8 segundos!

Só que a realidade é bem outra. Os treinos são diários, ininterruptos, longe dos holofotes e de qualquer inspeção. Os muito feridos são descartados e substituídos.

A cidade de Ribeirão Preto decidiu suspender as provas após liminar da Justiça que proibiu o uso de instrumentos que caracterizariam maus tratos nas montarias. Não podendo usar nenhum instrumento de suplício, não tiveram como realizar provas de rodeio. E acabou acontecendo o Ribeirão Rodeo Music, festa que reuniu o mesmo público, mas sem montaria de animais. A polícia esteve o tempo todo na festa para cumprir a decisão. Caso resolvessem colocar algum animal na arena, não poderiam usar em hipótese alguma os apetrechos, nem o sedém.

Esse tipo de evento tornou-se uma indústria. Os apelos comerciais são intensos e quem não preza a ética, patrocina. Criaram um falso glamour, e, mais uma vez, o povo vai na onda e paga pra ver. E tome cerveja, esporas, laços, foguetório e baderna. Essas festas, regadas a bebidas, quase sempre terminam em brigas e algumas, até em morte.

Assim como os circos sem animais sobrevivem, esse costume bárbaro um dia também será abolido. E pela evolução natural dos humanos, essa mentalidade selvagem tende a se modificar.

Até Nossa Senhora Aparecida inseriram na festa como padroeira dos peões. Mas duvido que ela, símbolo da maternidade, do carinho e mansidão, aprove.

A finalidade da luta desigual é provar que o peão é “macho”, corajoso. Não importa se órgãos de animais sejam rompidos, se esporas os ceguem, se ossos sejam quebrados. São apenas animais, dirão alguns. Como se animais não sofressem, não sentissem dor, angústia, medo e desespero. Maus tratos são encobertos, veterinários se vendem para dar falsos laudos e afirmar que não há maus tratos.

Segura peão, e vê se cria outro tipo de diversão, um touro mecânico ou rodeio virtual. Segura peão e deixa em paz o animal que é manso, pacífico e tem bom coração.

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Ivana Maria França de Negri é escritora e defensora dos animais

29 thoughts on “Segura Peão!

  1. Ivana traduz aqui o pensamento de tanta gente, que sabe o quanto sofrem os touros nestes espetáculos que são continuação dos bárbaros espetáculos da arena romana, em que gladiadores escravos eram forçados a lutar enquanto o povo aplaudia.

    Hoje as pessoas compreendem o absurdo destas práticas, sabem que os animais nos rodeios estão sofrendo grandes crueldades, somente para a diversão e os lucros de gente sem coração.

    Em inúmeras cidades brasileiras estão proibidos espetáculos em que animais são forçados a se apresentar!

    Piracicaba, cidade tão destacada em termos culturais, precisa deixar de lado essas práticas bárbaras, e proibir que se realizem em seus limites municipais!
    Isso é sinal de evolução de mentalidade, de ampliação da qualidade espiritual de seus cidadãos !

    Parabéns ao Diário do Engenho por nos transmitir, veicular este importante e tão atual artigo de Ivana Maria França de Negri !

    1. Clarice.

      Agradecemos por seu pontual comentário. Mesmo sendo um editorial de cultura, o Diário do Engenho é totalmente avesso à qualquer prática que coloque em risco a vida – seja ela humana ou animal. Estamos ao lado de quem valoriza, respeita e cuida da vida – sendo também essa uma de nossas principais preocupações.

      Equipe Diário do Engenho

  2. Os interesses políticos e empresariais, são os grandes motivadores desta crueldade aos animais. Algumas cidades movimentam milhões com esta “festa”.
    TODOS precisam ter consciência de que isso precisa ter um fim. Poderiam começar, não prestigiando festas que têm montarias em animais.
    Chega de ignorância e crueldade !
    Proteger o meio ambiente e os aminais, é um fator importantíssimo, para a EVOLUÇÃO humana !
    Meus cumprimentos, à bela iniciativa do Diário do Engenho. Parabéns, Ivana !

    1. O Diáro agradece a você também pelo seu comentário, prezado Fabiano. Esperamos poder sempre estar ao lado de quem luta pela vida humana ou animal. E nos colocamos à disposição de todos os que queiram fazer uso deste espaço nesse sentido.

      Equipe Diário do Engenho

      1. Agradeço ao Diário do Engenho o espaço que nos contempla, sempre disponível aos colaboradores e sua diversidade de assuntos e opiniões. Essa é a verdadeira democracia, onde cada um pode expressar-se livremente, sem censuras.

        abração

  3. O ser humano comete muitas ações covardes, valendo-se de recursos que criou, que são armas. O animal não usa armas,defende-se apenas com sua força natural, por isso tornou-se refém de tanta maldade e covardia. Enquanto as covardias forem cometidas, o ser humano continuará sendo um ser destruidor, que está acabando com tudo. Acabando com animais, plantas, água, etc… Que um dia o ser humano se lembre que ele faz parte de tudo isso e não é de sua propriedade. Maria José Soares

  4. E o problema é que nem mesmo de cultura isso pode ser chamado. Nem a desculpa da tradição sobrevive, porque nada mais existe de uma coisa ou de outra. Parece que o sadismo é algo essencial à maioria, polegar para cima ou para baixo, para delírio da multidão.

    Parabéns pelo artigo.

    Barone

  5. O barbarismo humano já não tem mais limite, pura covardia daqueles que se dizem seguidores de cruéis tradições tipo “farra do boi” em Santa Catarina. Os rodeios bem que poderiam apenas mostrar a doma do animal, em que cavaleiro e cavalo se defrontam em condições iguais. Ou, quem sabe, utilizando as técnicas do “encantador de cavalos” que se vale mais do carinho e da confiança no animal.

    1. Tem razão, José, quando cavalos e cavaleiros se defrontam em condições iguais, cria-se um clima encantamento e amizade. Mas quando o animal é subjugado e submetido a agressões de esporas, sedéns, sinos, peiteiras, fora o que fazem atrás dos bretes sem que ninguém veja, é pura covardia!

      obrigada por comentar

    2. Caro Souza:

      Tomei conhecimento desses fatos relatados, primeiramente através de movimentos que se insurgiram contra a defesa dos rodeios. Na época, desinformado sobre esses acontecimentos narrados por ti através de email, acreditava que fosse um exagero a proibição dos rodeios e que se tratava de um movimento alienado desse tipo de cultura que prejudicaria os interesses da cultura gaúcha e de outros Estados que exerciam essa prática. Agora, esclarecido através do teu comentário e de outros constantes nesta página me posiciono contra essa prática e louvo a iniciativa dos comentários em defesa dos animais.
      Vencida essa luta sugiro que se posicionem contra os de sacrifícios de animais exercido por práticas que se dizem religiosas.

      1. Gilberto, as práticas religiosas com sacrifícios de animais são horrendas! Mas fica bem difícil combatê-las porque a constituição federal prega a liberdade de culto, isto é, o direito de cada indivíduo de escolher livremente a sua seita, culto ou religião. Só que nenhuma religião, culto ou seita deve violar o respeito a qualquer criatura, e todas devem seguir os preceitos universais da misericórdia e da compaixão.
        Mas há que se lutar por todas as causas que envolvam violência contra inocentes animais.

        abraço

  6. Parabéns a você Ivana por usar da palavra argumentando e sensibilizando as pessoas para uma prática que precisa ser banida. A vida pode ser tão feliz sem necessidade de causar sofrimento aos animais. Se somos capazes de construir maravilhas por que não seríamos para criar opções civilizadas de lazer? Parabéns ao Diário do Engenho por divulgar idéias evoluídas. Ma Fatima Barreto Michels.

  7. Parbéns Ivana. Parabéns Diário do Engenho.

    A cada dia, amo mais os animais e temo o homem, tido como racional e civilizado.

    Carvalho de Azevedo

  8. É assustador a maldade do ser humano com os animais e entre eles mesmo, esses rodeios bobos devem acabar!
    Precisamos conviver em armonia com a natureza!!!

  9. Olá Ivana. Pode ser utopia, mas quero crer que um dia o ser humano realmente mereça essa qualidade “humano” de que tanto nos orgulhamos e que muitos de nós não faz muito esforço para justificar. Quero crer que meu neto viverá em um mundo melhor e mais respeitador. E essa esperança torna meus dias edificantes e criativos. Ainda acho que viver vale a pena e que Deus nos dá a missão que podemos cumprir. Parabéns pela sua voz sempre alerta. Parabéns ao ” Diário do Engenho”

    1. Antonia, um dia essa utopia será realidade. Também tento trabalhar por um mundo melhor porque tenho 3 netinhas. Eu acho que investir na educação, trabalhar com as crianças, ensiná-las a amar a natureza, a preservar, a respeitar os animais, fará com que o mundo de humanize. Os adultos…não tem mais jeito !

      bjos e obrigada

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