Brasil à esquerda

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A pesquisa do Ibope, divulgada na terça-feira (27/ago), reafirma a escalada de Marina Silva rumo a um segundo turno a ser disputado com a presidente Dilma Rousseff, do PT. De acordo com a pesquisa, Marina Silva, do PSB, já possui 29% das intenções de voto do eleitorado – deixando bem para trás o candidato tucano, Aécio Neves, que despencou para o terceiro lugar, com apenas 19%. A presidente Dilma segue em primeiro lugar, apesar de também ter sofrido sensível queda, dos 39% para os 34% das intenções de voto.

Candidatura que não decolou, a chapa composta por Aécio Neves foi assim assolada também por outra queda trágica e vertiginosa: a do avião de Eduardo Campos – que, por caminhos tortuosos, colocou Marina na disputa pela presidência. Mais do que isso, o candidato tucano – pelo que demonstra a pesquisa do Ibope – também perderia com considerável diferença para Dilma Rousseff, caso chegasse (agora quase que por um milagre) a disputar com ela um sonhado segundo turno – uma vez que, de acordo com o Ibope, Dilma venceria Aécio com uma diferença na casa dos 6% do total de votos.

Festejada por muitos, a boa colocação de Marina Silva já aponta que, na luta pela despolarização entre PT e PSDB, o partido tucano vem levando a pior. Apesar de toda a enxurrada de casos e acusações que tomavam o PT e seus principais representantes como foco – como foi o caso do mensalão, por exemplo -, parece que a desqualificação do Partido dos Trabalhadores junto ao eleitorado brasileiro não aconteceu.

Acostumado, tristemente, aos escabrosos casos de corrupção, fraudes, mensalões, processos de licitações irregulares (como o do Metrô de São Paulo, por exemplo) que irrompem na trajetória política de praticamente todos os partidos, o eleitor brasileiro – também ao que parece – não se deixa mais levar pelo jogo de acusações que quer apontar  qual partido ou qual político é mais corrupto ou menos calhorda.

Num universo político em que todos devem alguma coisa a alguém – e há sempre um rabo preso mostrando-se saliente por debaixo da mesa -, a preferência do eleitorado brasileiro dá indícios de que faz suas escolhas pelo crivo da necessidade.

Quer dizer, uma vez que – agora – os dois candidatos que seguem na liderança das pesquisas – Dilma e Marina – advém de partidos que, bem ou mal, declaram-se mais atentos a questões pontualmente sociais – (como o Partido dos Trabalhadores e o Partido Socialista Brasileiro), fica evidente que o neoliberalismo idealizado pelos tucanos não vem mais ao encontro dos anseios da (esmagadora) maioria da nação.

Mesmo sabendo que imprimir a esse ou a aquele partido uma coloração ideológica em tons de vermelho ou azul é hoje prática anacrônica e sem cabimento, vale observar – contudo – que os considerados partidos de “esquerda,” como PT e PSB, conseguiram deslocar no cenário atual – ao que tudo indica – o “direitismo” do PSDB a um terceiro plano.

Além disso, ao repentinamente apoiarem Marina Silva, os eleitores descontentes com a política do atual governo federal revelam também que não apostariam suas fichas em Aécio Neves e em seu partido como possibilidade de mudança da cena nacional. Afinal, antes de Marina entrar na disputa, a candidatura tucana nunca ultrapassou a marca dos 20% de intenções de voto.

Em resumo, a ascensão de Marina Silva – alavancada ou não pela comoção em torno da morte de Eduardo Campos – é sintomática e aponta que o brasileiro, mesmo quando deseja mudanças políticas, não abdica do interesse por projetos voltados para o social – em detrimento de gestões políticas que estão mais preocupadas com a abertura do mercado, com a livre concorrência e com privatizações.

Acusados de populistas – e isso é pano para manga a ser cerzida em outro editorial -, os ditos partidos de “esquerda” são hoje, ao que tudo indica, a preferência nacional.

 

 

 

 

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