Himalaia Mustang Shangri-lá.

Himalaia Mustang Shangri-lá.

Zilmo

Ele era estranho para os padrões dos brasileiros, embora fosse “caipiracicabano” da gema. O conheci no maior matutino que já se editou nesta terra: “O Diário” – escola de jornalistas. Seu nome de nascimento era Zilmo Telles de Freitas. Tinha a pele branca, era de estatura baixa, olhos esbugalhados, “cadeirudo” (de quadril largo), educado e extremamente gentil.

Em suas andanças pelo mundo ganhou o cognome de Himalaia Mustang Shangri-lá, dado a ele pelo ditador Sukarno – que vivia com 06 esposas e tinha à disposição duas mil mulheres num palácio separado e era tratado por monges tibetanos com plantas especiais para o testículo. O acesso a essas mulheres só era permitido aos quatro filhos e ao ditador. Quando Sukarno faleceu, os jornais brasileiros deram a noticia (sem foto), material raro de obter, e somente o “Diário” de Piracicaba publicou a foto de Sukarno.

Disse Sukarno a Zilmo certa vez: “seu nome será Himalaia, (porque será o mais alto de todos), será também como o cavalo Mustang (rápido e forte, e irá conviver com tempos quentes e secos ou muito frio). Finalmente, será ainda Shangri-la – como os habitantes daquele paraíso (pois você é um iluminado e terás a missão de guardar a sabedoria e o conhecimento).” Himalaia Mustang Shangri-la falava mais de 40 idiomas 37 dialetos. Às vezes, ao errar ao datilografar uma matéria, xingava num português misturado a outros idiomas, transformando tudo em algo inteligível.

Eu havia entrado no colégio técnico Industrial e, como de costume, estava com a cabeça raspada. Meus companheiros de redação, Roberto Cera e Henrique Spavieri, colocaram-me sentando em posição de lótus num carro de trilhos que transportava bobinas de papel até o deposito. Eles apagaram as luzes do barracão e chamaram o Mustang que, quando me viu, saiu gritando: “é um bruxo! Não pode ser o Mr. Carlinhos” (como ele me chamava). Deste dia em diante eu passei a ser diferente, pois na sua visão mística eu era um bruxo muito poderoso.

Sempre que alguém dizia impropérios por perto, ele gritava: “retire o dito… Retire o dito.” Para ele as palavras tinham um significado profundo. Ele conhecia a cultura de diversos países e sabia do poder das palavras quando pronunciadas. No “Diário” escreveu sobre suas viagens: “Tapete Mágico” e “As Maravilhas do Mundo,” que eram publicadas com grande sucesso.

Para falar sobre Himalaia Mustang Shangri-lá eu teria que escrever um livro, pois são muitas as suas histórias. Ainda falta contar sobre muitos assuntos vividos por este “James Hilton”, que nos dias de hoje deve estar vivendo em algum paraíso terrestre como o de “Horizonte Perdido”, e com certeza buscando o aperfeiçoamento em Shambhala, onde só entram aqueles cujo bom carma permite.

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João Carlos Teixeira Gonçalves é professor nos cursos de Comunicação da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP) e consultor em Comunicação e Marketing de Empresas. (Está coluna é também publicada pela Tribuna Piracicabana, às quintas. Vale conferir!).

(Imagem: filme de pornochanchada do qual Mustang tomou parte. Para conhecer mais sobre a personagem, acesse o site do jornal online A Província: http://www.aprovincia.com.br/memorial-piracicaba/depoimentos/himalaia-mustang-shangrila-no-cinema-nacional

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