Por que odiamos rodeios

Por que odiamos rodeios

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Piracicaba vive nestes dias mais uma festa de peão de rodeio. Lamentável. Para quem – como nós do Diário do Engenho – milita na área da cultura, a ocorrência de rodeios em nossa cidade nos cai na cabeça como um balde de água fria. Não por menos. A nosso ver, no vasto universo de eventos e atrações ditas “culturais” oferecidas ao povo, o rodeio pertence ao rol dos mais horrendos e execráveis acontecimentos.

Angariando enorme apoio e mesmo patrocínio de entidades, empresas, imprensa e órgãos distintos, o rodeio (em geral e em qualquer cidade) atrai milhares de jovens que – quase sempre altamente embriagados e idiotamente vestidos de “cowboy” ou “cowgirl” – se acotovelam em imensas arenas nas quais bois, cavalos e outros animais são – também a nosso ver – barbaramente martirizados (uma vez que entendemos que a mera exibição de animais em espetáculos como esses já se constitui, em si, numa enorme violência para com o animal). Realmente lamentável. Ridículo e lamentável!

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Embaladas por “artistas” que são sucesso na mídia brega e nojenta que infecta os ouvidos e destrói o gosto musical dos brasileiros, essas festas adentram pela madrugada oferecendo ao público shows “sertanejos” variados – os quais, em verdade, de sertanejo, mesmo, nada possuem – e que desrespeitam o volume sonoro permitido pelas leis do município – município esse que, curiosamente, ao que consta, não se incomoda com tal transgressão –, perturbando o sono e a tranquilidade daqueles que moram nas imediações desse “grande evento.”

Lembrando o filósofo Theodor Adorno – que dizia que a indústria cultural e a música ruim degeneram o gosto e aniquilam a capacidade do cidadão de apreciar arte de qualidade –, podemos dizer que os rodeios, em geral, consagram a degeneração das artes e da cultura ao arrastarem e condenarem uma imensa e jovem população ao atroz e estimulado contato com a “pseudo-arte” de consumo (pobremente produzida, terrivelmente vazia, altamente massificante e drasticamente alienante).

imagem2Festivais de música erudita, de dança, de teatro e outros tantos eventos gratuitos e de qualidade que anualmente acontecem em Piracicaba – e que recebem o devido apoio da administração pública, cabe ressaltar – muito provavelmente não conseguem, juntos, atrair a atenção de um por cento do público que – pasmem! – paga para frequentar essas festas abjetas. Ducha de água fria em quem luta para levar atrações de alto nível a todos, os rodeios maculam as cidades por onde passam e expõem inevitavelmente a ignorância de seu povo – sumamente interessado em “cervejadas,” em desfile de “modeletes” e em homens de calça justa e chapéu de vaqueiro que zanzam e banzam em cima de animais assustados e feridos.

Perdoem-nos a franqueza. No exercício da tolerância e da democracia – que preza e garante o direito de ir e vir do cidadão e sua liberdade de expressão – podemos apenas lamentar o gosto de quem frequenta tais arenas. Se gosto não se discute – como reza o dito popular – com toda certeza podemos dizer que, ao menos, se lamenta. A liberdade e o direito à escolha é, inegavelmente, de todo o cidadão – e cada um deve saber escolher o que quer “consumir,” sabemos disso.

1441470089_1af25ec603[1]No entanto, de nossa parte, declaramos sem medo de represálias que odiamos rodeio, sim! Mais do que isso, não nos conformamos com a presença deles em nossa cidade – e julgamos que a cidade que os recebe deva também receber o título de cidade inimiga da cultura e inimiga dos animais.

Morramos de inveja de Paraty, de Ouro Preto, de Tiradentes, de Campos do Jordão… reconhecidamente “celeiros” das mais importantes festas da música erudita, da literatura, do cinema, das artes plásticas e de outras artes (de verdade) de nosso país. Morramos de inveja, sim. Mas morramos odiando rodeios!

9 thoughts on “Por que odiamos rodeios

  1. Parei de ler em ” atrai milhares de jovens que – quase sempre altamente embriagados e idiotamente vestidos de “cowboy” ou “cowgirl” – se acotovelam em imensas arenas “. Vestir-se de cowboyou cowgirl é questão de gosto!!, qual o problema??cada um veste da maneira que quiser. E outra JOVENS BEBENDO?? isso acontece em baladas, festas, não é exclusividade do rodeio. Bom émúsica classica e MPB né? concordo. É boa..boa pra dormir

  2. Lamentável. E pensar que muita gente que posa de protetor de animais vai a essas festas horrendas de tortura explícita.
    E ainda colocam Nossa Senhora como padroeira. Será que ela aprova?…
    Morramos mesmo de inveja das cidades que patrocinam artes de verdade e não festivais de crueldades.
    Parabéns Diário do Engenho!

  3. Fazendo uma reflexão sobre este editorial conclui que tudo depende de ponto de vista, ao analisar a historia percebo que de longa data a humanidade tem por tradição fazer espetáculos com a utilização de animais, o próprio Coliseu em Roma nada mais é que uma arena utilizada também para esta finalidade, com a evolução dos valores de vida a sociedade adquiriu uma consciência mais crítica a respeito deste assunto e esta abolindo estes hábitos, um exemplo disto é o numero de circos que simplesmente não tem mais apresentações com animais, por outro lado acho que esta corrente formada por defensores de animais pecam pelo excesso ou exagero em suas defesas, exemplo disto temos os roedores gigantes que escaparam de um experimento cientifico na esalq e se proliferaram infestando as margens de nosso rio, o que não teria problema nenhum se não fossem agentes multiplicadores da febre maculosa, então perdemos vidas humanas porque uma promotoria publica e meia duzia de defensores de animais prezam mais a vida de um roedor que a vida humana alheia.

    acredito que falta muito para extinguirmos eventos com apresentação de animais, mas ainda assim as estatísticas dos últimos 50 anos é muito animadora, para que haja evolução na qualidade da cultura há de se investir em educação,e isso já sabemos o quanto é deficitário.

    Voltando aos rodeios, em minha opinião só ocorre o comparecimento de multidões por motivo dos shows musicais e não pela apresentação com os animais, não vejo os jovens que frequentam este tipo de evento como pessoas apreciadoras de crueldade com animais, mas sim jovens que tem seus hormônios impulsionando seus ímpetos, e assim como na dança dos cisnes que procuram seus pares, estes jovens se trajam e se arrumam para sua dança,na esperança de dar sequencia na mais antiga das finalidades da vida.

  4. Daqui a pouco proibem os roçeiros de andarem a cavalo kkkkkkkkkkkkkkkkkk, vai vendo.

    Não gosta de maltratos aos animais mas usa sabonete, compra roupas feitas a partir de animais

  5. Só tenho apenas que dar os parabéns pelo texto. Resume tudo o que realmente é um rodeio, seu contexto social, massificação, pão e circo mesmo. E gostaria de uma posição da Polícia Ambiental e prefeitura (Sedema), a respeito da intensa poluição sonora. Moro a mais de um quilômetro (quase 2) e sou infernizada todas as noites por este evento do mal!

  6. No meu entendimento, quem escreveu esse texto apenas se preucupa com a cultura musical da cidade e tambem tem inveja da quantidade de publico que vão aos rodeios.. não me pareceu muito preucupado com MAUS TRATOS AOS ANIMAIS.. “quando for escrever alguma coisa seja mais objetivo e procure saber mais , pra não ficar escrevendo bobera!”

  7. Por que será que os “críticos” de plantão sempre aparecem anônimos ou sem sobrenome?
    Por que nunca se identificam?
    Um dia a festa da tortura vai acabar, quando as pessoas evoluírem e respeitarem as dores dos animais como se fossem suas, quando refletirem que tortura não pode ser diversão.

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